A presença da pele e da carne é uma dadiva que possibilita o impossível, a mudança, a transmutação, a ação e a criatividade.
O corpo feito para experiência, crescer, evoluir e viver, de fluir com a natureza.
O corpo, a casa de todo o meu infinito ser de amor e poder, afinal o amor é o poder.
O poder de criar, viver e aceitar quem se é sempre sabendo que ainda há tempo para mudar.
O corpo que tanto é julgado, judiado e exigido, o corpo que sempre é torto aos olhos superficiais.
O corpo, quando olhado inteiramente é dádiva de saber que é uma pequena molécula de todo o Universo.
O corpo que permite sentir a tudo, e que é finito em estado humano, tornando o viver ainda mais belo, feroz e milagroso.
O corpo que aguenta e suporta o dia a dia;
que auxilia na jornada;
que divido com amor com o outro, divido a carne e a energia que se completam, se fundem e se manifestam como uma apenas uma.
Somos o masculino e feminino em energia e fundimos em corpo nossas metades, para assim provarmos do verdadeiro significado de plenitude, completude e cumplicidade.
É o amor pelo meu próprio ser que se expande no amor pelo outro;
é a entrega de o meu próprio ser que gera o compartilhamento do amor.
Copo com corpo, alma com alma, ser com ser, completos e repletos da energia do viver.
A dependência de vestir uma armadura antes de sair de casa;
a potencialização do ser humano, de acreditar que é melhor ser quem não se é, e fingir ser o que os outros acham que devem ser, afinal, os outros são aqueles que comandam você;
se isso é mentira, ótimo;
porém, observe e reto-me a permissão de comando sobre si mesmo.
A máscara que é usada para agradar a todos e sorrir enquanto se é apedrejado em praça pública;
o medo de envelhecer e descobrir que depois de tudo o que viveu você será apenas descartado;
mas que mundo todo errado, em vez de criarmos heróis, alimentamos vilões ferozes que geram medos e aprisionam as nossas almas.
Que mundo todo torto, que gira em torno de corpos e rostos escondidos atrás de mentes obscuras e medrosas no exílio.
Para esse mundo escondido derrubo as muralhas e estampo a verdade em seu teto de vidro;
Escolho deixar a armadura cair;
escolho o caminhar pelo mundo sem máscaras, nua e livre.
Não há nada de errado em ser quem se é, em lutar pelo que se quer, em começar de novo independente do que se acha dependente;
Tirei a minha máscara, estou desnuda e grito podem vim, me apedrejem;
mas já deixo avisado, cansei de remediar o irremediável;
por isso, não vou sorrir falsamente, mas também não vou chorar, vou me reerguer e dizer exatamente onde é o meu lugar.
E se apenas observasse o caminho o qual percorro agora, ao invés de tentar olhar aquele que ainda está por vir?
E se eu olhasse em volta desse caminho e conseguisse ver a linha do tempo de tudo o que eu já vivi?
Histórias por histórias, acontecimentos por acontecimentos, respiração por respiração e cada sentimento que tudo isso desperta em mim.
E se eu olhasse para essa estrada como uma linha única da história da minha vida e as respostas já estivessem respondidas em algum momento de toda a história que vivi?
Mas me distraio, o caminho a diante parece-me mais agradável, vejo o que é possível;
um passo depois do outro, olhos firmes no caminho a frente, nunca no passo que está sendo dado;
ignoro o chamado de olhar pro caminho percorrido, para os lados, para o chão que os pés pisam agora;
afinal já olhei o caminho lá antes, não há nada de novo nesse lugar, que antes era a estrada a frente e agora se tornou a estrada que piso.
Passo a passo despercebido que a estrada a seguir é criada pelo passo dado agora e pelos passos que ficaram pra trás.
Em algum momento o cansaço se instala, é preciso parar;
as pernas doem, o corpo doe, respirar parece doer e olha que isso é automático, nunca foi preciso perceber;
a estrada a frente parece agradável um lugar onde tudo é possível, mas cansado o corpo está esgotado, é preciso parar.
A respiração começa a ser cada vez mais notada, os olhos se fecham por um instante, o corpo agradece e relaxa;
quantos belos sons são possíveis ouvir;
quantas belas paisagens são possíveis olhar;
onde estava toda essa beleza que antes parecia os olhos não enxergar?
e os olhos se abrem e a ideia do apenas observar se torna constante;
os passos já dados podem ser vistos como os pedaços de migalhas de pão que não comeram os pássaros;
um caminho marcado pelos passos que percorri.
De repente um desejo de voltar explode em meu ser;
minha mente impulsiona, mas o corpo não responde a esse querer;
e uma nuvem branca circula meu corpo, o que meus olhos veem enchem de sentimentos o meu ser;
minha linha da vida sendo observada por quem eu sou agora, pelo quem me tornei.
Histórias por histórias, acontecimentos por acontecimentos, respiração por respiração e um turbilhão de sentimentos que me despertam;
para a minha estrada, para a linha única da história da minha vida e para as respostas de perguntas que nem foram feitas já respondidas.
O chamado agora é de permanecer no passo a ser dado, atento, observando sem esquecer que o futuro se planta no presente e que novos horizontes se abrem observando o passado e curando-o no presente.
Talvez a estrada a frente não será mais como uma linha reta, mas cheias de novas linhas, pra direita, esquerda, frete e de assim por diante,
pois a cada novo passo marcado no chão permaneço na observação do que escolho e para onde escolho;
sem certo ou errado, apenas em pleno viver do caminho sagrado da volta pra casa;
casa do meu ser, de quem EU SOU e não de quem quero ser.
Há uma tempestade, ela não está vindo, ela já está aqui;
Os ventos sopram tão fortes quanto possível, é como se eles gritassem nos meus ouvidos;
tudo ao meu redor balança, tomba, cai e geme, não há o que fazer é preciso esperar;
e na minha mente um antigo som ecoa: “depois da tempestade vem o sol”
Meus olhos tentam olhar ao além;
além da escuridão;
além dos ventos;
além da tempestade a minha frente, mas não consigo ver nada além de um borrão;
tento olhar além da tempestade, para seu “depois”;
meus pés tentam procurar pelo sol, mas nada pode ser visto pelos meus olhos além da devastadora tempestade ao meu redor.
Sinto-me cansada, exausta, ferida, deixo-me cair, escolho deixar-me afundar nas águas que não param de jorrar a aumentar;
me entrego a tempestade, me fundo a ela;
fecho os olhos sem mais nada a pensar, apenas uma palavra que desejo proclamar;
proclamo, clamo por ajuda, mesmo sabendo que ao meu redor não há mais ninguém, afinal todos estão presos no meio da mesma tempestade;
minha voz, um sussurro sem força, mas com força suficiente para o pedido entregar.
Meus olhos se abrem e uma mão direcionada para mim se estende;
meus olhos procuram de onde ela vem e tudo o que vejo são olhos além da confiança;
estendo minha mão e uma força parece reabastecer todo o meu ser;
me levanto, flutuo através da escuridão;
não enxergo o caminho, mas atravesso sem medo, por entre os ventos e seus uivos.
Eu atravesso a tempestade ao encontro do sol.
Um silêncio ecoa o som único da paz, da calmaria;
Sinto o abraço das mãos que se estenderam para me guiar;
Sua voz no tom mais doce suavemente diz em um declarar;
o mais difícil não é a tempestade suportar, mas sim, o lembrar que durante ela, mesmo diante do medo e da distração que sozinha jamais estará;
o mais difícil é lembrar de pedir, entregar e confiar.
Foi assim que entendi que o mais difícil não foi Simão Pedro andar sobre as águas, mas sim, pedir ajuda quando estava afundando e confiar o suficiente que iria ser salvo, mesmo que há pouco havia duvidado, se distraído por um segundo.
Que lembremos sempre de pedir por ajuda em meio a nossas tempestades;
pois são os ventos das tempestades que impulsionam as águas para que elas possam continuar o seu percurso.
Palavras constróem, semeiam frutos bons e ainda sim os não tão bonitos.
Frutos de amor, medo, felicidade ou ódio, são todas palavras que foram ditas antes de serem concretizadas.
No início havia o silêncio e o som de uma simples palavra criou tudo, criou o TODO.
Palavras importam;
Não as que ouvimos, não somente essas;
Mas as que saem de nós, pois essas expressam o que há em nosso próprio Ser;
Ser imperfeito, buscando a perfeição;
Perfeição que apenas há nas palavras Daquele que ecoou-as pela primeira vez e que vive dentro de cada uma de suas criações.
Palavras que vêm e um som ecoa e do eco cria e cocria;
Isso já está escrito e dito na passagem de um tal de profeta Isaías: “Isso diz o Senhor: (Assim como a chuva e a neve descem do céu para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra e fazê-la germinar e dar sementes, para o plantio e para a alimentação). Assim a palavra que sai da minha boca, não voltará para mim vazia, antes realizará tudo que for da vontade e produzirá os feitos que pretendi ao enviá-la”.
Palavras, palavras e palavras que saem a todo momento de bocas e ecoam sem voltar vazias, sem voltar antes de realizar os feitos que pretendiam;
Palavras que semeiam e que ao voltar trazem os frutos que semearam de volta.
Que cada palavra que dessa boca sair, seja um som que semeia amor e que amor seja a única semente que plantemos de hoje até o resto de nossos dias.