Velhas formas

Formas contém seus próprios ângulos e não se encaixam em quaisquer espaços;

cada qual é cada qual, onde se encontra, se encaixa, se pertence.

Há formas que se modificam, transformam se tornam novas;

e novas formas não se encaixam em velhas formas.

Velhas formas não cabem em novas marcas de pegadas.

Olhei para o meu interior e na escuridão que ali havia uma luz brilhou;

olhei ao meu redor e nada do que antes se encaixava perfeitamente, cabe mais;

ações antes pensadas ser realizadas na certeza, agora há clareza de que não se encaixa mais na luz que acendeu.

Para que uma nova plantação se inicie é preciso arrancar a velha;

observei, olhei, a luz brilhou e o que antes tinha certeza de ser quem eu era, descobri que estava longe de ser quem eu realmente Sou.

Velho hábitos, ações, formas de pensar, moldes antigos, aqui agora, na nova forma não se encaixam mais.

Velhas formas do um dia acreditou-se ser, e que talvez foi, agora não é mais;

e mesmo que o luto se instale por um tempo, por eventualidade passa;

tudo caminha, tudo se refaz.

Formas se modificaram, transformaram-se, tornam novas;

novas formas não se encaixam em velhos moldes;

velhas formas não cabem em novas ações;

o que antes parecia ser a vida, agora a vida, como realmente é, diz “oi” quebra todas as ilusões antes seguidas;
desfaz todos os personagens antes criados, vestidos, em atuação e entra em ação.

Nathalia Favareto

Tudo o que se é

Aconteceu tudo muito rápido, não consegui perceber de imediato,

que levou questões de segundos para a minha antiga vida morrer.

Foi como um respirar e expirar;

foi em uma entrega total a vida, ao acreditar na Providência Divina;

o sentir o amparo para tal acontecimento se realizar.

As muralhas caíram sozinhas, a batalha nem precisou ocorrer de fato;

a vitória foi clara, no entanto, o novo infelizmente não cabe nos mesmos velhos locais;

e antigas versões precisam ser deixadas.

Agora a visão é mais clara;

agora as emoções, antes sufocadas, não são mais rasas.

Tudo ficou intenso e real, tão real quanto jamais antes foi.

Agora eu percebo que um ser humano sem Deus é apenas o humano;

perdido na dor e no sofrimento mundano;

frágil, vencível e perdido.

Um ser humano com Deus é o Ser em seu todo, completo, apenas por ser tudo o que se é.

Nathalia Favareto

Entre os olhos

Eu posso ver por entre seus olhos;

Posso acessar aquela luz ali no fundo, aquela que nada ver, mas vê tudo.

Um brilho como a mais reluzente das estrelas.

Eu posso ver por entre seus olhos;

desnudar sua carne, adentrar no seu interior.

Ah! Se pudesse te dizer o quão linda és, o quão perfeita és, apenas por ser.

Eu continuo vendo através dos seus olhos;

é tudo tão magnífico, onde ecoa a cação mais doce, a história mais pura, o amor mais vulnerável e ingênuo.;

Eu posso ver por entre as luzes de todas as cores, por entre todas as dores;

o quão delicada e detalhista és.

Como é bom poder ver por entre seus olhos;

acessar aquela pequena parte que não posso descrever, mas que é a mais bonita de seu ser;

aquela que clareia ao amanhecer e brilha na noite.

Como é lindo me conectar tão profundo e fundo, como é lindo ver meu próprio Ser.

Como é lindo amar e amar e amar;

tão profundo que é difícil descrever ou explicar.

Eu vejo isso através desses olhos;

olhos que veem o verdadeiro Ser de quem Eu realmente Sou,

aos olhos do meu Criador.

Nathalia Favareto

O poder da intenção

Ah! O que seria da vida se todas as intenções fossem vistas e questionada?

Se cada pensamento, palavra e ação tivesse a sua intenção bem estabelecida e observada;

A vida talvez ocorresse mais leve e com surpresas divertidas a cada segundo da jornada.

A intenção que não fala, mas reverbera na espera do resultado a ela empregado;

espera que gera cobrança, que quebra confiança, que vive de mais e mais, de fez ou não fez, de vantagem em vantagem, de frustração em frustração.

Ah! Se o mundo se perguntasse a cada ação a sua intenção…

Ela desnudaria em verdade e colocaria em exposição toda a ilusão em cima da bondade;

afinal, não há bondade sem a pureza do agir sem espera;

de fazer sem recompensa;

pois a bondade ela é como é, e não espera ou fantasia resultados pela mente antes programados.

Quer saber o poder da intenção sem espera?

Preste atenção nessa pequena história que contarei.

Havia um menino e todos o dias ele passava pelo mesmo caminho;

caminho conhecido, não havia nada de novo, afinal ele conhecia cada árvore, cada buraco, cada pedra que por ali se encontrava.

Em um belo dia, nesse caminho, algo novo aconteceu. Ele viu um bezerro amarrado, no princípio ele ficou com medo, assustado, mas depois, ao passar ali todos os dias, notou que o bezerro tinha tanto receio quanto ele.

Decidiu então fazer amizade, tentou se aproximar, mas o bezerro a cada vez que ele esticava a mão para acaricia-lo, recuava e saia correndo.

O menino tornou isso um desafio e dizia assim mesmo: “Vou amansar esse bezerro, não sei de quem é, mas vou fazê-lo meu amigo.”

Dia após dia o menino tentava e tentava e nada;

Conversava, brincava… mas não tinha progresso.

Os dias foram se passando e o menino apenas passava, conversava, esticava a mão, mas o bezerro já corria ao ver ele erguer o braço.

Ele havia se apegado a presença do bezerro naquele caminho, toda vez que ia e voltava o bezerro estava sempre por lá.

Um belo dia, ele voltava pelo caminho, olhou para o bezerro, conversou com ele, mas não arriscou estender a mão para tentar tocá-lo, olhou para o lado, e viu um pouco a frente um recipiente, caminhou ele e notou vestígios de água, mas estava seco, sem nem uma gota, nada, apenas um outro pequeno ao lado.

O menino olhou para o bezerro e depois para o recipiente com alça, ele sabia que havia um rio ali perto, mas não tão perto a ponto do bezerro amarrado conseguir chegar.

Largou as suas coisas, pegou o balde e foi até o rio, despejou a água no recipiente e em segundos o bezerro estava ao lado dele. O mesmo, bebeu um pouco de água, caminhou mais próximo do menino, o lambei a mão e o encarou. O menino sorriu e saiu para buscar mais água. Quando voltou com o segundo balde, o bezerro bebeu água de novo e começou a esfregar a cabeça no braço e no corpo do menino. Ele então, esticou o braço e acariciou a cabeça do bezerro todo alegre.

O pequeno bezerro também parecia muito feliz ao olhar alegremente para o menino, que pensou que o animal parecia sorrir.

Desse dia em diante, todas as vezes que passava pela estrada, ele observava se ali naquele recipiente havia água. E todas as vezes o bezerro o acalentava e permitia que a sua cabeça as pequenas mãos acariciassem.

De todas as ações do menino a única ele não teve a intenção de fazer para conquistar a amizade do animal foi a que ele ofereceu a ele água.

A falta de água, gerou no menino compaixão que o fez ter a ação apenas por ter, por amor, na pureza de seu ser e não para conquistar o animal, mas, sim, para suprir sua necessidade sem esperar nada em troca, e em retorno, recebeu com muita alegria um ato de gratidão que gerou em seu peito as maiores das alegrias. Que fez valer aquele dia, aqueles longos dias de tentativa e espera.

Que o olhar para nossas intenções com o externo exponha a verdade de nosso ser;

que não fujamos ao desnudar-nos e perceber a recompensa nela empregada;

mas sim, que agimos diferente e que essa ação no faça compreender que a pureza vem do fazer sem esperar nada em troca receber.

Nathalia Favareto

Apaixone e se deixe apaixonar

Estou apaixonada;

apaixonada pela experiência, pela arte, música, pela natureza que é bela perfeição a ser contemplada;

pelo corpo ainda a ser conhecido e tocado.

Apaixonada sim;

pelas maravilhas sem fim ainda camufladas, não descobertas e a serem criadas.

Eu confesso que me apaixonei;

apaixonei pelo processo que traz turbilhões de emoções, que explode de dia e traz a calmaria pela noite;

que tudo expande e clareia.

Apaixonei-me pelo reflexo que espelha cada mínimo detalhe de perfeição e imperfeição, onde a luz ainda não permeia;

Apaixonei-me pelos olhos cativos, sorriso bonito que grandes coisas suportaram e ainda, quem sabe, há de suportar, aprender e crescer.

Apaixonei-me sim, sem olhar o bom ou o ruim;

pois apaixonei-me pelo que foi;

pelo que pode ser;

pela vida que recebi;

pela vida a receber;

e pelo amor que com seu humilde encanto disse a mim o quão bom é pela vida se enamorar e a partir dela descobrir um universo de possibilidades sem fim a ti encantar, a ti se deixar apaixonar.

Nathalia Favareto

Olhar dos olhos

Olhos nos olhos e ver a alma;

ouvir tudo o que a boca não fala;

todas as perguntas caladas pela mente, mas feitas pelo interno que vibra, ressoa e responde sem palavras.

Olhos nos olhos sem medo, mesmo que dúvidas ecoem em segredo para outros;

sem segredos para olhos que se veem e se encontram para espelhar a alma, que fala pelo coração.

Olhei em meus próprios olhos em reconhecimento, amor e gratidão;

o passado deixa-se ir em gratidão e com perdão e compaixão.

Olhei em meus olhos e ali vi refletir o hoje e o amanhã;

Enquanto o ontem em um retrovisor refletiu, ficou para trás aos poucos sumiu.

Olhos nos olhos transformam crianças em adultos;

espelham a certeza oculta;

desejam a verdade ressoante;

são a verdade triunfante.

Olhei em olhos tão calmos e aquecidos;

Neles vi a beleza do que está escrito em cada alma dessa jornada,

como um livro pertencente a cada um como se é.

Vi Deus em olhos humanos, que falam mais que quaisquer palavras;

olhos que espelham Deus e humano em uma só luz vista olhada.

É o como eu olho para a vida, que a vida vai escolher de volta me olhar.

Nathalia Favareto